Gosto muito do que faço. Gosto por muitas razões. Uma delas é porque a malta (mais comummente tratados como “alunos”) quando ganham confiança, o filtro sai e conseguem ser honestos e dizer o que pensam sobre as coisas.
Que têm medo do futuro, que não sabem muito bem o que fazer, que sabem mas nunca falaram sobre isso, que têm preguiça, que não fizeram e deviam ter feito, que… sei lá. Afinal, todos temos medo, preguiça, cobardia…
Numa viagem algures por aí, falávamos sobre o futuro e sobre as decisões que temos que tomar na vida, independentemente se temos medo, preguiça ou outra coisa qualquer. E nisto, no fim do workshop, uma rapariga com cara de sinceridade deita cá para fora “Querem que eu decida o meu futuro. Que tome já uma decisão muito importante. A minha mãe ainda fala por mim quando vamos ao médico. Como é que vou decidir o meu futuro?”
Quando ouvi isto fui para casa pensar. Pensei que, se calhar, ela tinha razão. Ela verbalizou a voz da malta de 17 e 18 anos que choca com a necessidade de ser responsável. Vá, sejamos sinceros: eu tenho 31 anos e se calhar isto também é para mim. Acho que muita gente não foi habituada a dar opinião. A falar sobre si. Sobre o que lhe dói e sobre o que acha bem. Também se calhar não nos apercebemos que a decisão de futuro aos 17 ou 20 ou 23 anos é só mais uma decisão da vida. Que muitas virão. Que muitas já foram. Que todas são.
Somos protegidos? Se calhar somos.
Mais cedo ou mais tarde vamos ter que ir ao médico sozinhos e vamos ter que assumir as consequências das nossas decisões, sem que ninguém nos “passe a mão pelo pêlo”. Se calhar vamos esquecer de pedir as receitas ao médico, vamos nos enganar no curso, vamos chegar tarde ao primeiro dia de trabalho, vamos encolher a roupa quando colocarmos a máquina de lavar a trabalhar pela primeira vez…
Mas com isto tudo vou perceber que se for a minha mãe a dizer os sintomas eternamente, se calhar não vai dizer exatamente o que sinto. Vamos compreender também que se estivermos à espera de aprovação para tomar decisões, vamos balançar nas expectativas e nos desejos dos outros. Desculpar a nossa incapacidade de tomar decisões com o “sempre me dizem o que fazer”, é deixar de sermos. É sermos os outros.
Responsabilidade. Saber expressar o que sentimos e queremos, e fazer, com a consciência que tudo tem consequências. As consequências são melhores ou piores, dependente do que sentes e queres.
Começa agora. E pode ser com a máquina de lavar ;)