Arregaça as mangas!

Afinal, o que queremos nós, millennials, fazer?

Editor Unlimited Future
15 Fevereiro 2018

Mais fácil é responder ao que não queremos fazer. Se isto fosse um texto para geração millennial, era assim que começava. Não há introduções nem explicações. Dá-se logo a resposta e começa-se pelo mais fácil. Quem não sabe do que se fala clica com o botão esquerdo do rato em cima da palavra e googla. Mas como este não é um texto só para millennials; por isso, recomecemos.

Os millennials, ou milénicos – termo que se tem tornado popular menos entre omillennials, porque se há coisas que gostamos são de termos em inglês -, são uma geração que todos dizem ser difícil de agradar. A forma mais fácil para apurar quem é ou não millennial costuma ser olhar para a data de nascimento; há quem defenda que são os que nasceram entre 1981 e 2001, outros encurtam o intervalo de tempo. Contudo, este não me parece ser o único factor de triagem – é, sobretudo, uma espécie de condição sociocultural.

Mais fácil do que enumerar aquilo que pretendemos fazer, e os consequentes quando e como, é dizer o que não queremos mesmo fazer. Talvez seja essa uma primeira característica dos millennials. E, não, não somos todos assim. Tanto não o somos que nem sequer muitas das pessoas que nasceram nas datas mencionadas se enquadram nesta descrição.

Tenho colegas de infância, companheiros de primária e ensino básico ou até mesmo licenciados que não planeiam deixar de fazer aquilo de que não gostam. A vontade de mudar existe, mas vontade sem ação não passa de um mero desejo. Está na ambição de assumir diferentes atividades e cargos ao longo da vida uma das mais distintas marcas dos millennials – não que isso seja necessariamente bom.

Esta nossa geração padece da condição bicho carpinteiro hipster e internacional. Gostamos de conhecer novos sítios, seja na cidade, no campo, na praia ou na montanha, na rua, em casa, num armazém abandonado… desde que garantam a fotografia única – isso é que importa (apesar de nunca a encontrarmos). Viajamos amiúde ou, pelo menos, damos a ideia de que o fazemos – nem que para tal guardemos imagens da mesma viagem para serem cuidadosamente distribuídas ao longo das semanas após regresso à base. Tornamos a comida pornográfica e com a pornografia banalizamos o sexo.

Enquanto vamos experimentando de tudo um pouco, ficamos sem ser realmente bons em nada. E tenho para mim que poderá haver algum suporte clínico nisso quando nos falam em intervalos de atenção cada vez menores, exasperação por não obter resultados imediatos e a constante busca incessante por sentimentos e estímulos intensos. Comprometemo-nos pouco. Jamais fazemos um crédito para comprar alguma coisa. Preferimos arrendar ou alugar. O crescimento da gig ou sharedeconomycomprovam isso mesmo. Partilhamos a casa com amigos, o carro com colegas; as fotos no Instagram e os pensamentos nos grupos de WhatsApp.

Um dos maiores sectores a ter problemas com este tipo de vida titubeante são os media. Na televisão não sabem se estamos ou quando estamos do outro lado; nos jornais já nem se fala se os compramos, mas se os lemos. Dizemos que não temos tempo para ler e fazem-nos textos mais curtos. Reviramos os olhos e dão-nos vídeo. Não temos predisposição para ouvir e escrevem-nos legendas. Assim vai o estado das coisas; não profetizo a estupidificação de uma geração, mas fazer scrolldown e distribuir likes não nos tornará mais críticos do que se passa em nosso redor – isso é certo.

Afinal, o que queremos nós, millennials? Se tivesse a resposta não seria eu próprio millennial. Mas tenho algumas luzes: uma vida descontraída, longe de politiquices e perto de animais (o lugar do PAN na AR não é obra do acaso). Queremos direitos civis valorizados, igualdade de oportunidades, tanto para aparecer como para sairmos de cena. Queremos mobilidade, queremos que não nos amarrem a lugares nem empregos. Queremos a liberdade de poder dizer não sempre que nos apetecer; de abusar do “quem está mal muda-se” – porque mudamo-nos mesmo. Uma e outra vez, até voltarmos ao mesmo sítio, eventualmente. É que não se trata de uma evolução, mas sim de rotação.


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