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Queres fazer um Gap Year? Inspira-te com as histórias destes aventureiros!

6 Abril 2023

Sempre quiseste fazer um Gap Year? Então estás no sítio certo, pois hoje vamos partilhar contigo algumas histórias de gappers que partiram numa grande aventura!


 

Bernardo Silva

Vencedor da bolsa de gap year da U-Scholarships by Nova SBE (2017)

A vida tem formas engraçadas (às vezes trágicas) de nos mudar o rumo. Quando digo de nos mudar o rumo não quero dizer apenas de nos levar a um sítio, a pessoas, ou atividades diferentes, mas de alterar o fundamento do que acreditamos ser nós próprios. Afinal, é o que cremos ser que serve de bússola ao nosso caminho. E em 2017 eu acreditava ser um rapaz recatado, muito dado ao pensamento e pouco apto à aventura. 

Era o meu último ano de licenciatura e tudo o que fui aprendendo parecia precisar de mais escrutínio do que as exigências académicas permitiam. Eu queria refletir melhor, traduzir a avalanche de conhecimento num corpo mais coerente, perceber em que direção me apontava tudo aquilo. Depois de quase 21 anos a depositar informação, senti que alguma coisa precisava de sair. Decidi para mim próprio não seguir logo para o mestrado, parar para digerir e para depois me expressar, confiante que depois disso eu estaria mais resolvido, mais compacto. Mas para isso precisava de tempo. Então fui em busca dele.

O que eu idealizava, ainda sem grandes planos, era simplesmente encontrar um sítio sossegado, solitário, onde eu, como um ermita, pudesse reformular-me. Mas eu não tinha nem esse sítio nem formas de me sustentar se o encontrasse. Encontrei antes uma bolsa de gap year que a minha universidade promovia. Eu desconhecia o conceito mas a descrição parecia ser exatamente do que eu estava à procura, por isso fiz um plano menos ermita e candidatei-me. Propus-me a viajar por países que tivessem uma raíz budista, taoista ou pelo menos onde existissem projetos com práticas de meditação que pudessem expandir o meu tempo (para os mais curiosos: Taiwan, Filipinas, Indonésia, Tailândia e Índia). 

Eu não esperava ganhar essa bolsa, nem sequer sabia se queria realmente ir sozinho para o outro lado do mundo mas, como vos disse ao início, a vida lá me mudou o rumo. Contra as minhas probabilidades, acabei a viajar sozinho durante sete meses, a fazer jejuns prolongados (uns voluntários, outros nem tanto), a dormir em tábuas de madeira, a apanhar boleias... Bem, a fazer tudo aquilo que um ano antes diria que não era da minha personalidade. E na procura desesperada por tempo o que acabei por ganhar foi espaço. Um espaço de possibilidades maior sobre o que sou, sobre o que significa ser-se humano em conjunto com todos os outros: espaço para respirar uma vida mais ampla. Um espaço que sem esse sortudo imprevisto talvez nunca existisse e eu talvez seguisse toda a vida sendo aquele rapaz recatado a quem a aventura nunca cativou. 

Se eu soubesse o que era um gap year no secundário, se na altura tivesse a (improvável) coragem de lhe dar uma hipótese, teria ganho esse espaço mais cedo? Não sei. Acho que não há forma de saber. Claro que a idade empresta uma maturidade acrescida para explorar a vivência. Claro que já tendo feito uma licenciatura é possível ligar melhor a realidade ao estudo. Mas nem por isso me convenço que fazer um gap year quando o fiz, e não antes, era o melhor rumo. Foi o meu, isso apenas.

Podia-vos falar das vantagens de o ter feito, de que me deu mais confiança para lidar com o imprevisto, para compreender diferentes perspectivas, para tirar os livros da faculdade do abstrato... Sinceramente todas essas razões podem soar muito bem mas não me parece que devam ser motivo para alguém fazer um gap year. Ninguém deveria fundar a sua vida em utilidades materiais, mas sim em experiências que sublimam o sentimento de se estar vivo. 

Fiz o meu gap year porque precisava de me sentir inteiro, de parar de perseguir um caminho para me tornar nele; porque precisava de voltar a aprender o que significa a vida e que papéis assumem nela a curiosidade, a descoberta, o desconhecido, a alegria, o amor, a arte, a religião, o medo, a dor, tudo. Tudo. E nós não nos podemos ensinar isso a nós próprios. Só o mundo pode. Nós só temos de ceder à sua maravilha. 

 

Matilde Manuel

Candidata à bolsa de gap year da Lobo Scholarship (2022)

O meu gap year foi plano de gaveta durante 6 anos. Este ano tirei-lhe o pó e trouxe-o para a realidade. A ideia nasceu no final do secundário, mas as condições não estavam reunidas para embarcar. Faltava o dinheiro e a aceitação por parte da minha mãe, algo que sempre pesou para mim, especialmente aos 18 anos.Surgiu depois a possibilidade de parar entre a licenciatura e o mestrado, mas a pandemia veio colocar mais uma vírgula neste caminho. No final do mestrado o meu foco esteve em ganhar e poupar dinheiro para cumprir o sonho, e por isso esperaram-me 9 meses de um contrato de trabalho e um part-time em simultâneo. Em outubro de 2022 fiz a mala e acenei um até já a Portugal para abraçar o Sudeste Asiático, que me irá acolher até maio de 2023.

Fazer um gap year durante o ensino superior não foi tanto uma escolha, mas uma consequência do rumo que tomou o meu percurso e de um conjunto de situações que foram atrasando a decisão. Os 6 anos de standby deste plano foi tempo precioso para me perder em livros de viagem, ouvir histórias inspiradoras de quem fez acontecer, aprender pelas palavras de quem já fez aquilo que eu aspirava fazer,e para viajar e adquirir mais experiência por mim própria, acima de tudo, alimentar o sonho. 

Acredito que a Matilde de 18 anos teria embarcado rumo à Ásia com mais medos e receios do que a Matilde de 24, por ter vontade de conhecer mundo, mas de não imaginar o que a esperava, e que isso a teria impedido de dizer que “sim” a certas experiências que hoje já tive oportunidade de viver, como ficar a dormir em casa de pessoas locais ou passar o dia com quem conheci à hora de almoço. Também a nível financeiro, o facto de o dinheiro que estou a usar ter sido ganho com o meu suor e o meu tempo, faz-me valorizar a experiência de uma forma mais intensa, permite-me olhar para trás, lembrar-me de como aqui cheguei e do quanto quis isto para mim. A minha curiosidade pelos caminhos de vida traçados por quem vou conhecendo, é certamente maior agora, depois de ter concluído a faculdade e de até já ter pisado o mercado de trabalho, algo para o qual não estava tão desperta aos 18 anos.

O gap year tem-me ensinado algo extremamente importante para a minha vida futura, a capacidade de colocar tudo em perspetiva. Depois de contactar com gente de todo o mundo e ouvir histórias de quem já fracassou e revirou a sua vida vezes sem conta em prol dos seus sonhos, e também necessidades, percebo que para todas as tentativas falhadas, há uma nova possibilidade à nossa espera, por vezes até melhor do que aquilo que idealizámos para nós em primeira instância. O mundo está repleto de oportunidades, a única coisa que a vida exige de nós, é coragem para as agarrarmos. Tenho por isso hoje menos medo de arriscar, sei que se falhar certamente haverá outro caminho à minha espera, e que dei uma oportunidade a mim mesma de tentar.

  Viver optando constantemente pela sensação de segurança, e condicionar a felicidade diária pelo que poderá vir a acontecer daqui a 40 anos, como tantas pessoas da geração dos meus pais optaram por fazer, sempre foi uma ideia que fez pouco sentido, e que cada vez é menos sensata, para mim.

São inúmeras as novas competências que esta experiência me tem acrescentado, mesmo ainda não tendo chegado ao fim. Ter de ser eu a traçar o itinerário, a tomar decisões de o que fazer e onde ir, gerir um budget para 8 meses e fazer escolhas, assumir os erros e remediá-los, são tudo situações que me põem à prova, e que aumentam o meu sentido de responsabilidade, resiliência e autonomia. A capacidade de tomar decisões, encontrar soluções, lidar com a frustração das coisas nem sempre correrem como espero e aceitar que nem tudo está ao meu alcance, tem-me acrescentado muito enquanto pessoa e profissional e sei que todas estas ferramentas serão essenciais no meu futuro. 

 Somos uns/umas sortudo/as por hoje, no país em que vivemos, a discussão ser se devemos ou não explorar o mundo que nos rodeia. Para a maioria da população do globo, sair do seu país, não é sequer uma hipótese em cima da mesa.

Tive a sorte de privar com um paquistanês nesta viagem, apaixonado pelo mundo e por conhecer novos lugares, tal e qual como eu, mas com a diferença de que eu nasci em Portugal, e ele no Paquistão. Disse-me: “O quanto eu gostava de ter um passaporte vermelho como o teu (as cores dos passaportes podem ser associadas ao seu valor, sendo que os dos países islâmicos são verdes e, por norma,mais fracos) , acho que se assim fosse não parava em casa. Não posso crer que há pessoas que nasceram com essa sorte e não aproveitam essa quase milagrosa oportunidade, que se deixam paralisar pelo medo e não saem da sua zona de conforto. Eu estou proibido de entrar em diversos países, e para aqueles em que sou aceite, tenho de reunir um conjunto de papelada e pagar uma enormidade em taxas para tirar o visto de entrada no país, isto tudo sempre com pelo menos 6 meses de antecedência à viagem. Já para não falar da discriminação de que sou alvo em tantos aeroportos assim que mostro o meu passaporte. E mesmo assim, continuo apaixonado por viajar.”

  E é nesta, e em tantas outras partilhas, que a certeza de que estar aqui é um privilégio, se confirma. Deixar escapar esta oportunidade, seria desperdiçar o improvável e perfeito alinhamento de inúmeros fatores que tornaram possível, para mim, viver este sonho.

 

Maria Leones

Gapper (2018)

Fiz o meu gal year em 2018, após concluir licenciatura em Anatomia Patológica. Acabou por ser um ano de trabalho em Portugal + 6 meses de mochilão no sudeste asiático.

Depois da licenciatura a outra opção era ir trabalhar diretamente e eu ainda precisava de perceber quais as minha opções e como queria iniciar a minha vida no mundo do trabalho. A verdade é que fiz nesta altura por falta de opção e não por achar melhor. A ideia de fazer um Gap Year não me surgiu antes do ensino superior e certamente teria mudado a minha escolha de caminho. Assim que me foi dada a conhecer esta opção, foi mais do que certo que teria de passar por esta experiência antes de escolher o próximo passo.

De uma maneira geral, acho que me deu maturidade para compreender melhor o que tinha acontecido. Fazer um Gap Year acaba por ser uma desconstrução pessoal, e compreender o porquê de cada fase foi importante para mim. Ainda hoje relembro características minhas que apenas aprendi durante o meu gap year. Também penso que o facto de ser mais velha é já ter passado por uma licenciatura me deu um mindset diferente para ir. Não se tratava de descobrir o meu rumo ou de me encontrar, mas a verdade é que acabou por ser isso tudo. 

Para além da jornada de auto conhecimento, o Gap Year ajudou-me a ter a certeza de que o que tinha em Lisboa à minha espera - o início de uma carreira em anatomia patológica - não me parecia encher as medidas. O que me deixava saudosa e me entusiasmava estava tão longe do laboratório, e isso fez com acabasse por chegar à conclusão de que optar por tirar uma segunda licenciatura seria a escolha acertada. Enfermagem veterinária foi o grito do ipiranga para que o gap year me preparou. Foco, vocação e determinação é tudo o que precisamos para seguir os nossos sonhos. 

Apesar de parecerem skills mais abstratas, são das mais importante que ganhei. E juntamente com a noção de responsabilidade, capacidade de desenrasque, sentido crítico, empatia e poder de relativizar as situações, sinto que me tornaram uma pessoa capaz de tudo o que realmente. 

No fundo, mais que as soft skills de que tanto de fala, um gap year tem o poder de nos tornar melhores e mais capazes cidadãos do mundo! Capazes de se adaptar a novas situações por serem bons a compreender o que e quem os rodeia.

Ema Mateus

Vencedora da bolsa de gap year da U-Scholarships by Nova SBE (2022)

Como disse José Saramago, “é necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós”, e assim fiz, decidi sair da ilha, sair de mim e acima de tudo sair da caixinha normativa que tanto me sufocava.

Sinto que até concluir o secundário a maioria dos alunos progride da mesma forma e ao mesmo tempo. Isto é, iniciamos e concluímos o ensino no mesmo ano, são 18 anos da nossa vida em que a grande maioria atinge metas no mesmo ritmo, quase como se fôssemos em filinha uns atrás dos outros. Mas quando essa fase termina, parece que se abre um universo de possibilidades e já nada é obrigatório, ainda que haja um caminho moralmente implícito (licenciatura, mestrado, estágio, emprego, progressão no emprego). Apesar desse universo ser incrível, existe um medo irracional de “ficar para trás”, de ficar atrasado na maratona do sucesso e existe uma ansiedade gerada pela comparação. 

Mesmo sabendo que a vida podia ser mais, acabei por ficar presa no looping de que tinha de fazer a escolha mais acertada para o meu futuro e adiei o meu sonho de fazer um gap year, uma pausa no caminho convencional para viajar e vivenciar novas realidades. 

Para mim, a questão de fazer um gap year esteve sempre relacionada com a confiança que é necessária para dar esse passo. Na altura, tinha a vontade mas não tinha a confiança e os meus receios acabaram por falar mais alto. Foi só durante a faculdade, um período onde inevitavelmente se desenvolve mais independência e maturidade, que transformei o meu sonho num objetivo que queria concretizar. 

Dessa forma, assim que me licenciei, candidatei-me à bolsa UScholarship, uma bolsa patrocinada pela Nova SBE em parceria com a Associação Gap Year Portugal. Felizmente, fui a vencedora com o meu projeto “uma vida, um planeta” e pude começar o meu mochilão de sete meses pela América Latina. Parti rumo ao Brasil no fim do ano de 2022 e despeço-me do México no fim de julho de 2023 com o meu regresso a Portugal. 

Sendo uma pessoa insegura, um dos grandes objetivos da minha viagem era ganhar confiança em mim e nas minhas capacidades. Situações em que tenho de falar sobre mim e de me defender, como numa entrevista de emprego por exemplo, sempre me deixaram muito ansiosa. Eu sabia que ao viajar sozinha ia ter que me desenrascar, testar os meus limites, ouvir a minha intuição e utilizar as minhas competências. E é exatamente isso que tem vindo a acontecer, fazendo com que eu tenha quase como que uma prova de que eu sou capaz e se eu sou capaz disso, com certeza que também vou saber lidar com várias situações de “entrevista de emprego”.

Para além disso, outra mais-valia da viagem é que tenho vindo a desenvolver as tão famosas soft skills. Em três meses de viagem já estive em várias cidades e vários hostels, cruzei-me com dezenas de pessoas e tive inúmeras experiências que necessitaram que eu tivesse inteligência emocional, flexibilidade, adaptabilidade, uma boa comunicação e a capacidade de gerir conflitos e de lidar com a diferença.

Ter conhecido o conceito de gap year e ouvido os testemunhos de outros gappers, aos 16 anos, numa palestra do projeto Road Trip Gap Year da Associação Gap Year Portugal, foi o pontapé de saída para iniciar esta aventura. Portanto, se eu puder inspirar pelo menos uma pessoa, como um dia me inspiraram a mim, já me vou sentir muito realizada. A vida pode ser vivida de muitas formas, não existe um caminho certo nem muito menos existem moldes ou fórmulas. Essa é a beleza da vida, mas para ver essa beleza em toda a sua plenitude é preciso sair da caixa, “é necessário sair da ilha”.

 

Então, máquina? Cada vez mais convencido do teu caminho? Não te esqueças de falar com a Gap Year Portugal e consultar as bolsas disponíveis para teres o teu melhor ano de pausa! 


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