Mercado de Trabalho

The Hustle Culture: A geração que finge amar o seu trabalho

Redatora com Futuro
12 Março 2019

Época de exames e todas as stories no Instagram são de noitadas na biblioteca, de apontamentos com marcadores bonitinhos e livros daqueles pesados que nos gabamos de ler. Todo um estudo aparentemente árduo, dedicação e gosto pelo que se faz. Mas até que ponto será genuíno?

Tudo começa com aquela pressão exercida pela sociedade que, de uma forma bastante direta, te diz «escolhe uma profissão de que gostes» - o que importa é ser feliz, mas numa boa profissão, atenção. Então, por volta dos 14 anos preocupamo-nos com a área de estudo que vamos escolher, aos 17 com o curso superior e quando estamos na universidade, em convencer os outros e a nós próprios de que gostamos do que fazemos e que iremos alcançar os nossos objetivos.

Entretanto chegamos ao mercado de trabalho e, recentemente, surge a cultura hustle. Obcecada pelo esforço, implacavelmente otimista, desprovida de humor e – assim que te apercebes – impossível de escapar.

Numa start-up como a Nova-Iorquina WeCompany, todas as almofadas dizem «Do what you love» e em sinais de néon lê-se «hustle harder». Nas paredes, frases motivacionais: «Don’t stop when your tired, stop when you’re done». Para além disto, os seus funcionários vivem numa WeLive, exercita,-se no WeGym e os seus filhos vão para o infantário WeGrow. Isto faz com que estejam constantemente ligados ao seu trabalho sem se aperceberem, sendo cada vez mais explorados pelos seus superiores.

O mediático Elon Musk, por exemplo, afirma que não é possível chegar-se a lado nenhum ao trabalhar apenas 40 horas semanais. Por outro lado, Jonathan Crawford, um empreendedor da Storenvy testemunha que, obcecado pelo trabalho, engordou 40 quilos. Se socializasse, era numa conferência. Se lesse, seria um livro sobre negócio.

Ao perceber o que estava a acontecer, mudou a sua vida e aconselha os colegas que procurem atividades não relacionadas com trabalho, como ler ficção, ver filmes ou jogar jogos. Pareceu-lhes um conselho radical - "É estranhamente revelador para eles, porque durante muito tempo não perceberam que se viam como um recurso a ser gasto", disse Crawford.

É muito fácil tornar-se viciado no ritmo e no stress do trabalho em 2019. No entanto, parece incongruente: se os Millennials são supostamente preguiçosos como é que também podem ser obcecados pelos seus empregos?

Anne Helen Petersen, antropóloga, afirma que os millennials estão apenas a esforçar-se desesperadamente para satisfazer as suas próprias expectativas. Uma geração inteira foi criada para esperar que as boas notas e o desempenho extracurricular os recompensassem com trabalhos satisfatórios que alimentassem as suas paixões. Em vez disso, acabam com um trabalho precário e sem sentido e com uma montanha de dívidas e empréstimos. Assim, fingem ser motivados e adorar as manhãs de segunda-feira. Começa a fazer sentido como um mecanismo de defesa.

A solução, segundo a especialista, passa por cada um decidir se rejeita ou admira este nível de devoção. No primeiro caso, por uma espécie de revolta contra as condições de trabalho e a procura de soluções ou alternativas. Se não, estando condenados a trabalhar para o resto da vida, podemos sempre fingir que gostamos.


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