Quando andava no básico e no secundário sempre fui daquelas alunas medianas da fila da frente. O que não é necessariamente bom, nem necessariamente mau. Uns dias as aulas interessavam-me e outros dias nem por isso. Para além das aulas, que muitas vezes não achava estimulantes, tentei ter outras atividades para me ajudarem a fazer coisas diferentes que não fosse estar sentada a ouvir os meus professores.
A primeira atividade extracurricular que fiz foi o voleibol. Inscrevi-me logo no 5º ano por iniciativa própria, mas fortemente influenciada pelas minhas amigas, e ainda bem! Foram 5 anos de competição. Aprendi a ter melhores reflexos, a mexer-me rapidamente, a ter maior resistência física, mas também a lidar com o stress, a aprender a lidar com o frio na barriga ao abrir o jogo, com a frustração de falhar um serviço ou de sofrer um ponto. Aprendi acima de tudo a trabalhar em equipa e a não ficar zangada quando alguém falhava uma jogada, incluindo eu própria.
Outra coisa que fiz, e já no 10º ano, foi inscrever-me num clube chamado “clube de autoconhecimento”. Eu não fazia ideia do que era aquilo, mas achei o nome interessante porque tinha a ver com conhecimento, e eu gostava de aprender coisas novas. Daí surgiu uma transformação que eu não previa. Pela primeira vez estava, em contexto escolar, a falar das coisas que sentia. Fiz pela primeira vez exercícios para perceber as minhas emoções, utilizei ferramentas como a roda da vida para me perceber melhor. Aprendi a conversar sobre coisas com significado para mim, e isso foi transformador e muito útil, ainda que não esteja previsto no programa curricular.
A última sugestão que deixo, e também foi decisivo na minha personalidade, foi a utilização na biblioteca escolar. Infelizmente, a biblioteca escolar é associada a mau comportamento e castigo. O que acontecia na minha escola era que os alunos que não se portavam corretamente (seja lá o que isso for…), iam para a biblioteca de castigo. Se a biblioteca tem esta conotação associada, é normal que os alunos não queiram ir lá frequentemente. No entanto, para mim foi mesmo importante mudar essa ideia, porque a biblioteca escolar foi o meu primeiro contacto verdadeiro com livros e a leitura. Tornou-se num lugar seguro onde podia ler coisas que não se davam nas aulas nem estavam na Internet.
Mesmo sem muito dinheiro, sem pais que nos incentivam, sem amigos para participar nas atividades extracurriculares, temos sempre a possibilidade de escolher. A escola deve ser um lugar seguro onde podemos explorar coisas novas para saber se gostamos ou não. Vão à descoberta.