De acordo com o relatório anual feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) lançado na semana passada (“Education at a Glance 2022”), Portugal investe menos de um terço do que os restantes parceiros internacionais. Ainda assim, estudantes diplomados continuam a ter vantagem no mercado de trabalho.
A organização nota que Portugal está “entre os que menos gastam” em ensino superior. Por ano, o país destina cerca de 12 mil euros (equivalente a 11.858 dólares em câmbio atual) por ano por cada estudante universitário – valor abaixo da média que atinge os 17.559 dólares anuais. É então possível verificar que Portugal investe menos um terço do que os restantes parceiros internacionais. Vê-se ainda que, na Europa, países como a Grécia e Lituânia investem menos e outros países abaixo de Portugal pertencem à América Latina (como por exemplo, Chile, Colômbia e México).
Este relatório apresenta também uma comparação do investimento que é feito no ensino superior em percentagem do PIB e o resultado revela-se ainda mais desfavorável para o nosso país, uma vez que destina apenas 1,1% da riqueza nacional a este nível de ensino – colocando-se 0,4 pontos percentuais abaixo da média da OCDE. Verifica-se que apenas a Irlanda e o Luxemburgo, dois países com economias distintas da nacional, registam um valor pior.
Apesar de tudo isto, Portugal está entre os países que mais evoluíram nos indicadores de qualificações do ensino superior. A partir dos dados retirados de 2021, podemos concluir que quase metade da população entre os 25 e os 34 anos concluiu o ensino superior – o que se traduz em 47% –, sendo assim a primeira vez que atingimos a média europeia de qualificações no nível universitário. Além disso, observamos que, no espaço de uma década, a percentagem da população com as idades compreendidas descritas acima com o ensino superior, aumentou 20% (bem acima dos 9% da média internacional).
Hugo Figueiredo, professor da Universidade de Aveiro e especialista em economia do ensino superior, sublinha que o “esforço de massificação” do ensino superior “está a ser feito com subfinanciamento” e que para evitar “perda de qualidade” do ensino e “desafios organizacionais” para as Instituições, “não há grande alternativa a não ser haver mais dinheiro”.
Também o vencimento dos diplomados foi alvo de estudo neste relatório – o qual, em Portugal, está acima da média da OCDE. Os trabalhadores que concluíram o ensino superior ganharam mais do dobro do que os restantes com o ensino básico, assim como aqueles que têm o ensino secundário estão 25% acima face aos que têm menos qualificações. A organização concluí que “os benefícios da conclusão do ensino superior no mercado de trabalho são especialmente fortes durante as crises económicas. Foi também isso que aconteceu durante a COVID-19 em Portugal”, tendo em conta que os diplomados foram menos atingidos pelo desemprego gerado pela pandemia e conseguiram recuperar o trabalho mais rápido.
Ainda no ensino superior, no relatório deste ano, a ODCE demonstra preocupação com a falta de resposta que o ensino nacional dá aos públicos adultos, considerando que o sistema é “largamente orientado para as necessidades das faixas etárias tradicionais”, com idade de entrada nos ciclos de estudos inferiores à média internacional.