Um inquérito online sobre a saúde mental a alunos da Universidade de Lisboa, promovido pela Associação Académica de Lisboa (AAUL), revela que quase metade dos 459 alunos inquiridos (45%) já ponderou desistir da faculdade por se sentirem “psicologicamente esgotados”. 13% afirma que talvez já tivessem ponderado e cerca de 42% disseram que não o teriam feito. Sabe-se que a maioria frequenta a licenciatura e tem idades compreendidas entre os 18 e os 21 anos.
Em declarações ao PÚBLICO, o presidente da AAUL, José Afonso Garcia, afirma que a Associação Académica olha para estes resultados com “evidente preocupação”. Os alunos dizem não se sentir bem física e mentalmente, têm dificuldade em adormecer ou acordar, demonstram vontade de se isolar e consideram ter uma elevada carga de trabalho académico.
Além das razões referidas acima, destaca-se a dificuldade e preocupação económica, a problemática com a procura de alojamento acessível e com boas condições/crise habitacional e a pouca oferta de apoio psicológico na academia. Sobre o aumento das rendas por quartos, José Afonso Garcia diz que a Academia tenta “analisar o contexto como um todo, mas é evidente que os problemas relacionados com a crise habitacional afetam muito os estudantes”. O próprio refere ainda que “de um momento para o outro, os senhorios aumentam a renda. Um estudante que já está a meio do ano e se vê nessa situação tem duas opções: ou deixa de estudar ou tem de aceitar aquele preço porque não encontra outras possibilidades”.
Segundo o dirigente, todas as perguntas do inquérito online foram formuladas com o apoio de psicólogos, que também apoiaram os estudantes da Associação Académica na análise dos dados recolhidos. Os mesmos dão conta de que “quem se encontra numa posição geográfica significativamente grande entre a sua cidade de origem e Lisboa, tem, de forma muitas vezes stressante e desgastante, de alugar um quarto”, o que motiva a uma “mais pesada preocupação não só para os próprios jovens como para as suas famílias, que em grande parte os ajudam financeiramente”.
80% dos inquiridos já sentiu vontade de se isolar e 58% revela priorizar os estudos em detrimento da sua saúde mental. O estudo dá ainda conta de que a pandemia COVID-19 foi um elemento negativo na vida dos estudantes universitários, na medida em que viram os seus hábitos de sono alterados: passaram a dormir menos horas e adormecem mais tarde. 30% tem apoio psicológico regularmente, enquanto 40% nunca ponderou recorrer a esse serviço.
“É necessário implementar medidas efetivas para fornecer suporte emocional e psicológico adequado aos estudantes, bem como criar um ambiente académico mais saudável e inclusivo”, defende a Associação Académica. As conclusões retiradas deste estudo foram encaminhadas para a reitoria da Universidade de Lisboa e para as respetivas faculdades e institutos. O presidente da AAUL deixa uma proposta às instituições: “Pedimos, por exemplo, que os dados do desempenho académico, que estão informatizados, sejam utilizados como indicador do estado mental dos estudantes. No caso de um universitário que diminua o seu rendimento académico, por que razão não há um algoritmo que detete esta baixa e isso provoque uma ação do lado da faculdade para perceber se o estudante está bem”. O mesmo ainda acrescenta que “um estudante que não pague as propinas recebe logo alertas e notificações para viabilizar a situação. Mas quando o rendimento baixa por problemas de saúde mental não há nada que alerte que o estudante poderá estar a passar por um problema”.